quinta-feira, fevereiro 14

pequeno papo entre pais e filhos

Este negócio de vislumbrar o futuro me parece que acontece quando se tem 17 anos, ou 40, ou 60. De uma forma ou de outra, alguém (você, seus filhos, sobrinhos, afiliados ou netos) terá 17 anos.

O que dizer a jovens destas idades? Talvez seja a hora de compartilhar as próprias incertezas.

- Pai, como você vê o futuro?

- Como assim, filho? Você quer dizer se eu tenho esperança no futuro?

- Não, não quero dizer esperança, isto eu sei que você tem. Quero saber como você pensa que vai ser o futuro.

- Ah, sei lá, filho. Acho que o mundo vai ser muito diferente de hoje, mas com muitas coisas iguais.

- Como assim?

- Vou explicar. Será muito diferente porque cada tempo tem suas rupturas. Tudo está sempre sendo rompido. Costumamos achar que nosso tempo é de mudanças e que o tempo de nossos pais e antepassados é estático. Mas não é bem assim. O mundo está sempre mudando. Cada nova geração quer mudar. Mas, veja que interessante. Isto é que é sempre igual. As mudanças. As incertezas. E as nossas dúvidas. Sempre teremos nossas dúvidas.

- Então, pai, isto é o que eu quero saber. Quais são as suas incertezas? Quais são as suas dúvidas?

- Ok, este é um bom ponto. Não vou tentar prever o futuro, mas vou tentar lhe dar uma boa idéia das minhas incertezas.

- Então diga logo.

Parei um pouco para organizar as idéias e recomecei:

- A primeira, filho, é a seguinte: a gente deveria aprender a viver bem com a incerteza que vem por aí ou tentar criar um mundo ao nosso redor que seja mais pacífico e tranqüilo? Veja filho, não é uma questão de ser mais ativo ou passivo, ou de ser criativo ou adaptativo. Não é só isto que está envolvido. É muito mais, entende?

- Acho que sim. Afinal, o resultado agir de uma forma ou outra é muito diferente, não é? Sua vida será completamente distinta se optar por um caminho ou outro...

- Isto mesmo.

- Não sei, mas acho que é que nem os jogos que a turma joga em rede. Ou a gente é bom e se “vira” bem em vários deles, ou é um gênio que sabe “bolar” os jogos e liberar para o pessoal jogar...

- Pois é filho, ou você é daqueles que jogam bem o jogo ou daqueles que criam novos jogos. Que habilidade ou postura é melhor desenvolver? Saber navegar bem na instabilidade ou criar um mundo de equilíbrio e estabilidade? Eu não tenho certeza.

- Entendo, pai... Sabe que tem amigos meus que não agüentam jogar certos jogos? Eles caem fora!

- Pois é, né, filho, quando há muita confusão e incerteza, e você não sabe o que fazer, você se enclausura e se fecha. É mais seguro. Mas isto leva a minha segunda incerteza: se a gente tem que se fechar e construir um ambiente seguro para gente e para aqueles que a gente gosta, ou se devemos nos abrir o máximo, para aprender e conectar-se.

- Entendi. Quando eu estou no computador, às vezes tenho que bloquear o Messenger. Quando tem muita gente e está todo mundo enlouquecido querendo se conectar, tem que dar um tempo.

- É isto, filho. Sabe, no fundo, a gente está querendo é buscar nosso lugar no mundo. Só que a gente se divide entre jogar bem o jogo da vida, como ele é (e para isto a gente às vezes monta um sólido sistema de defesa) e entre procurar outros jogos e até mesmo contribuir para a criação de um novo. Quando se é jovem, é ensinado (ou mordido por algum vírus) para escolher. Viver e vencer no mundo que está aí ou mudá-lo.

- Mas é que isto, esta escolha, depende do seu jeito, né, pai?

- É verdade. De que você dispõe para fazer isto ou aquilo? Quais são os seus valores? Quais são as suas habilidades? Eles são mais subjetivos, "humanos", por assim dizer, ou mais objetivos e "racionais"?

- Então é isto que você pensa. Suas incertezas sobre o que fazer ou onde investir, não é? Se num mundo de "deixar como está e viver bem" ou de "lutar para mudar", não é mesmo? E se você vai fazer isto com a cabeça ou o coração, não é?

- É isto. Acho que é bem isto...

- Então, pai, o que devo fazer?

- Primeiro, filho, tenha consciência das suas incertezas. Quanto mais você conhecê-las, mais opções terá. Depois, não faça escolhas nem apostas. Apenas prepare-se com a perspicácia que puder para a maior parte delas. E sempre que estiver em dúvida, considere o caminho do meio.

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